quinta-feira, 21 de maio de 2009

Freguesia de Santar



40° 34' N 7° 53' O

Santar é uma freguesia portuguesa do concelho de Nelas, com 12,47 km² de área e 1 156 habitantes (2001). Densidade: 92,7 hab/km². Foi elevada a vila pelo decreto n.º 15 128 de 21 de Março de 1928, que também conferiu o mesmo estatuto à freguesia de Canas de Senhorim, no mesmo concelho. Integram a freguesia as aldeias de Casal Sancho e Fontanheiras.

História

Parte I: OS DOCUMENTOS ESCRITOS

Documentos antigos com o nome de Santar

Existem referências à existência de Santar (na forma Sentar) em 1.103 (documento que desenvolverei mais adiante) e 1.110, em dois documentos que constam do “Livro Preto da Sé de Coimbra”.

Abordaremos primeiro o documento datado de 17-8-1110 ou 16-7-1110 , tratando-se de um testamento em que consta “Praedicta ecclesia mea est Sentar in territorio seniorim discurrente flumen Mondeci de alia parte ribulo Adon, et est in partibus Visensis...”.

Este documento vem integralmente transcrito na monografia do Concelho de Nelas (de Pinto Loureiro), tendo escapado ao autor, que se tratava da doação da Igreja de Santar (não de Senhorim como por lapso refere), entre outros bens, que o presbítero Mendo tomou de presúria no tempo do Conde D. Henrique (pai de D. Afonso Henriques).

Demos conta do lapso quando lemos um artigo do Pe. Prof. Dr. Avelino de Jesus da Costa (Professor catedrático, erudito em História Medieval, em paleografia e latim medieval), conhecedor do texto original, que refere claramente ser este documento a doação da Igreja de Santar (concelho de Nelas) à Sé de Coimbra.

O documento mais antigo data de 1.103, tratando-se da doação à Sé de Coimbra, por Pedro Sesnando quanto possuía na vila de Moreira “totam meam partionem de uilla moreira . que est in t(er)ritorio zurare . et diuidjt cum sentar . et flumen aon .”

Como podemos ver qualquer dos documentos é anterior à batalha de Navas de Tolosa, pelo que não poderia ninguém, em 1212 (fosse rei ou plebeu), dar o nome a Santar. Efectivamente tal nome já existia de forma clara e inequívoca.

Que nos dizem os documentos sobre Santar

Como refere o documento citado em primeiro lugar, o Presbítero Mendo doou à Igreja de Santa Maria – sede episcopal de Coimbra – a “Igreja de Santar, com os seus testamentos e o Passal, a que adicionou a Igreja de Moreira. Segundo o documento, tais bens o Presbítero tomou de presúria no tempo do Conde D. Henrique (que terá morrido no final de Abril do ano do testamento - 1.110). Sabendo que o domínio de D. Henrique como senhor terá iniciado a partir de 1095, intitulando-se (em Compostela) como “comes portugalensis” em 1097, podemos concluir tratar-se Santar de uma povoação já existente antes do seu domínio, o que comprovamos pela forma organizada e desenvolvida como nos aparece: já possuidora de testamentos e do Passal.

Apesar do termo presúria nos induzir no erro de que estas terras estariam ermas, como defenderam muitos historiadores da Península (nomeadamente Alexandre Herculano), o P.e Avelino de Jesus Costa sita o exemplo de Santar (como outros aqui na Região - Almofala em Tondela e Sobradinho em Viseu) como um caso típico de posse de terrras ou bens que estavam desabitados/desocupados e que foram tomados por outros por iniciativa própria ou de Senhores com direitos sobre as mesmas. O facto de estarem abandonadas (ermas) não implica que o estivessem todas as outras na vizinhança.

Podemos comparar o movimento de posse (do ponto de vista jurídica) de terras através de presúria (entre os sec. VIII a XII) com a figura jurídica da “usucapião”, tão usada hoje, perante os Notários e Conservatórias, para justificação de posse (efectiva) de bens imóveis.

O presbítero Mendo (o doador) tomou de presúria a Igreja de Santar, e te-lo-à feito por concessão (directa ou indirecta) de D. Henrique (daí a especificação da vinda à sua posse da Igreja de Santar) e na sequência da organização que vinha a ser dada a toda esta região sob influência político-administrativa do Conde. A presúria, neste caso, revela-nos mais uma forma organizativa da região do que de repovoamento puro e simples. Como veremos, estamos num tempo de grandes reformas ao nível do culto religioso, mas também e principalmente da organização político-administrativa do futuro reino de Portugal.

Ambos os documentos nos revelam também que Santar e Moreira sempre estiveram ligadas. Tal ligação é tão marcante, que o Presbítero Mendo ao doar a Igreja de Santar, doa também a de Moreira, o que mostra existir uma ligação forte ao nível de administração eclesiástica, mesmo que não estivesse ainda (re)organizada a paróquia de Santar (o que justifica não ser referida como tal).

Ao nível da organização político/administrativa do território, podemos verificar outra particularidade interessante:
Em 1.103, Moreira e Santar estariam localizadas em “território Zurare”, estando em 1.110 “in territorio seniorim”. Uma curiosidade que confirma o que o Sr. Prof. Dr. Inês Vaz nos comunicou recentemente sobre a existência, ao longo da História, de mudanças algo frequentes ao nível administrativo, e neste caso, a ter acontecido, durante o poder do mesmo Senhor (o Conde D. Henrique) que teve um importante (e reconhecido) papel na organização administrativa do futuro reino de Portugal.

Em 1.103 por influência de D. Henrique (que se deslocara a Roma em 1100 e 1103) conseguiu que as Dioceses do Porto, Coimbra, Viseu e Lamego ficassem sufragâneas da Sé de Braga (e não de Compostela como até então) o que representa um passo importante para a organização de Portucale, já que dentro no espaço físico da sua influência passaria a haver unidade entre a administração política e religiosa.

Sabemos que S. Geraldo (novo Bispo da diocese de Braga, Cluniacense de Moissac) foi um importante aliado do Conde D. Henrique, para a implementação do Rito Romano (em substituição do rito moçárabe), o que ambos foram implementando sem comprometer a unidade de toda a região em torno do poder do Conde.

Na altura da doação, o Bispo de Braga já tinha morrido, tendo-lhe sucedido o Bispo de Coimbra Maurício Burdino (Beneditino vindo de Limoges), passando a Bispo de Coimbra Gonçalo Pais de Paiva (Português) oriundo de uma família de Infanções portugueses muito influentes e que viriam a ter um importante papel como aliados de D. Afonso Henriques na Fundação do Reino de Portugal.

No entanto, para esclarecer os nossos leitores (principalmente aqueles que leram a nova versão da lenda) e desmotivar futuras falsificações aqui vão alguns esclarecimentos, que auxiliados pelos documentos acima referidos mostram a pequenez de quem os tenha escrito:

Parte II: A LENDA

A Batalha de Navas de Tolosa

D. Afonso VIII de Castela preparou uma grande expedição militar contra os muçulmanos. Para tal conseguiu que o Papa desse carácter de cruzada a essa expedição, reafirmou tréguas com outros monarcas cristãos e enviou embaixadores a França (e a outros reinos católicos). A 21 de Junho partem da cidade de Toledo os exércitos de Afonso VIII de Castela, Pedro III de Aragão, grande número de cavaleiros franceses e alguns Portugueses, o Bispo de Nantes e os Arcebispos de Bordéus e Narbona. Depois da conquista dos castelos de Malagón e Calatrava e depois da incorporação do exército do forte de Navarra, dá-se a batalha contra os Almóadas, em 16 de Julho de 1212, em Navas de Tolosa, que culminou com uma vitória decisiva.

Este texto não refere a presença do Rei de Portugal no exército Cristão (apesar de a omissão significar claramente que não esteve presente), pelo que recorremos a outros historiadores portugueses para ver o que nos dizem sobre o assunto.

Segundo José Mattoso, sobre o tema “A Guerra Santa”, os combates intensificaram-se a partir de 1210 quando Afonso VIII fez apelo a Franceses, Italianos, Aragoneses, Leoneses e Navarros e obteve as indulgências de Roma para empreender uma grande expedição, assim como as censuras eclesiásticas contra qualquer rei cristão que o atacasse. “Juntaram-se-lhe os Reis de Aragão e Navarra, mas não os de Leão e Portugal. De Portugal, no entanto, partiram muitos membros das ordens militares, sobretudo Templários e uma copiosa multidão de peões...”

Fortunato de Almeida a este propósito refere: “juntaram-se tropas de diversos príncipes da Península, e el-rei de Portugal, genro de Afonso VIII, não podendo sair do reino quando estava mais aceso o conflito com as irmãs, enviou tropas numerosas a colaborar na defesa do nome cristão.”

Escusado será consultar mais autores sobre esta matéria. Os exemplos citados são suficientes para que fique claro que:
1. D. Afonso II não participou na Batalha de Navas de Tolosa;
2. A Batalha não teve lugar em 12 de Julho;
3. O rei não passou por este sítio (Santar), no regresso vitorioso daquela Batalha, muito menos em 12 de Julho.
Se temos a certeza que o nome de Santar é anterior à fundação da nacionalidade (pelos documentos acima referidos), qual terá sido a origem deste nome?

Parte III: A ORIGEM DO NOME “SANTAR”

Como referimos acima o nome de Santar aparece-nos nos dois documentos sob a forma de “Sentar”. No entanto ao longo da História, Santar aparece sob diversas formas: “Santar” “Sentar” “Samtar” “Sumtar” e “Assentar”.

A forma actual já é utilizada em 1258 (Inquisitiones ) e em 1275 (no aforamento de Algerás).

Em duas cartas de doação em 1449 vem “Samtar”, vindo referido no censo de 1527 por “Suntar” por erro de u por a (segundo Pinto Loureiro). Um códige genealógico do Séc. XVII diz várias vezes “Assentar” por etimologia popular.

A origem do topónimo está no genitivo de um nome de uma pessoa germânica terminado em ~arius, nome que Pedro de Azevedo disse ser Sentarius, possibilidade aceite por Pinto Loureiro que confirma ter visto o referido nome (Sentarius, Senteiro -forma românica - ou Sentariz) em diversos documentos portugueses com as datas 925, 976, 977, 1012, 1017, 1018, etc., etc.

Assim, Pinto Loureiro acha provável que “a boa etimologia de Santar será: (villa) Sentarii > Sentar > Santar. O significado é «quinta ou casal de um indivíduo chamado Sentário».” Segundo este autor, a passagem que se observa de Sentar para Santar do e para a antes de n é um fenómeno antigo e vulgar como no caso jentare > jantar.
Partilho desta opinião, em atenção não só à forma desenvolvida cuidadosamente por Pinto Loureiro na sua 3ª Edição da obra citada, mas também por ser esta forma aceite pelos dicionários etimológicos que consultei.

Santar é uma povoação muito antiga. Encontra-se referida em documentos mais antigos do que a fundação de Portugal, pelo que não temos necessidade de inventar para justificar a sua origem. Santar não precisa de lendas para afirmar a sua origem. A sua fundação perde-se, como a maioria das cidades e terras antigas de Portugal no infinito da História. Os documentos que possam atestar a sua origem vão escasseando à medida que vamos mergulhando nos séculos da existência desta terra, revelando aos homens a evidência da sua pequenez.
(Dr Maia Rodrigues In Santarenses)

Localidades
Santar
Casal Sancho
Fontanheiras

Artesanato
Tapete de Arraiolos

Associações
Sporting Clube de Santar
Sociedade Musical 2 de Fevereiro de 1898 - Banda de Santar
Grupo Cultural e Recreativo de Santar
Grupo de Danças e Cantares Regionais " Os Santarenses"
Associação Cultural e Informativa " Os amigos de Santar" - Jornal Santarense
Cruz Vermelha Portuguesa - Núcleo de Santar

Gastronomia
Coelho à mirra
Migas à lagareiro
Caldo de debulho
Caldo verde
Bola de farinha de milho: sardinha, vinha-de-alhos e chouriço
Bola de farinha de trigo: presunto, queijo, vinha-de-alhos, fiambre e chouriço
Cozido à beira
Morcela
Chouriço
Presunto
Queijo da serra
Feijoada à santarense
Batata a murro com bacalhau assado na brasa
Vinho do Dão

Festas, feiras e romarias
Semana Santa em Santar

Festas
Festa da Vila - 21 de Março - Elevação à Vila
Festa Popular da Vila - Agosto
Aniversário da Sociedade Musical 2 de Fevereiro - Concerto Público
Aniversário do Grupo de Danças e Cantares
Aniversário do Grupo Cultural e Recreativo de Santar
São Pedro de Santar (padroeiro da paróquia)
Semana Santa

Feira
Feira de Santar - último sábado de cada mês

Romarias
Santo António, São João e São Pedro - Junho
São Sebastião
Santa Bárbara
Senhora da Piedade
Santa Luzia - Casal Sancho

Património:
Casa do Soito: Casa do Soito e Paço dos Cunhas (incluindo jardim e pomares delimitados por uma cerca)
Igreja da Misericórdia de Santar
Casa das Fidalgas
Casa e Quinta de Santar (Melo Pais do Amaral, depois conde de Santar)

Bibliografia
Santar, roteiro turístico - A. Polónio de Carvalho: Edição Câmara Municipal de Nelas, 2001


Algumas Imagens
Casa de Santar



Casa do Soito


Semana Santa em Santar


Casal Sancho

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